De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada cinco adultos em todo o mundo é diagnosticado com um transtorno de saúde mental anualmente. Em 2020, a pandemia agravou condições já comuns de depressão e ansiedade em mais de 25% em seu primeiro ano, informou também a OMS. À medida que as empresas vivenciam e aprendem com os efeitos da pandemia, uma lição é a importância da saúde e do bem-estar dos empregados, o equilíbrio do bem-estar físico, emocional e mental dos indivíduos.
Em algum momento durante suas carreiras, os profissionais podem ser expostos por algum agente estressor que afetará sua saúde mental. Os adultos geralmente passam um terço de sua vida trabalhando, então as empresas não podem esperar que os funcionários desliguem seus problemas no trabalho. Como sua organização prioriza a saúde mental pode ser a diferença entre as pessoas se sentirem seguras e apoiadas ou estigmatizadas e temerosas enquanto sofrem em silêncio.
As condições de saúde mental continuam sendo uma grande preocupação de saúde pública e uma carga significativa nos custos. Pessoas com desequilíbrio da sua saúde emocional têm menor interesse no autocuidado, e por isso pode aumentar o risco do aparecimento ou agravo de doenças crônicas como diabetes. Pacientes com problemas de saúde mental têm custos médicos aproximadamente três vezes maiores do que o restante da população. Nos Estados Unidos, por exemplo, a doença mental custa à economia US$ 200 bilhões anualmente.
Talvez o mais preocupante, no entanto, seja a letalidade das condições de saúde mental. O suicídio é responsável por mais de uma em cada 100 mortes em todo o mundo e é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Problemas de saúde mental também podem ter um impacto social na vida das pessoas. O estigma afeta significativamente os indivíduos com problemas de saúde mental e leva à redução da esperança, causando baixa autoestima, isolamento social, dificuldade no trabalho e relutância em procurar tratamento. Estigma, em grego antigo, significa uma marca de “vergonha, punição ou desgraça”, o que gera medo: medo da discriminação, de não ser aceito, de retribuição e, talvez, do desconhecido. O medo e a incompreensão levam ao preconceito. E o medo impede as pessoas de expressar suas necessidades ou preocupações sobre situações atuais, muitas vezes causando atrasos ou falhas na obtenção de tratamento adequado.
O estigma da saúde mental é um problema no local de trabalho com custos tangíveis para as pessoas e para os negócios. Pode resultar em maior estresse, sentimentos de esgotamento e perda de produtividade. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC na sigla em inglês) relata que as doenças mentais estão associadas a taxas mais altas de incapacidade e desemprego. O estigma da saúde mental cria desafios em toda a organização e afeta negativamente a cultura organizacional. Se não for abordado, as empresas podem enfrentar dificuldades com a retenção de talentos, com as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, menor satisfação no trabalho e falta de engajamento dos empregados.
Aqui estão várias etapas e práticas que as empresas podem considerar para reduzir esse problema no local de trabalho:
Superar o estigma da saúde mental é parte de um esforço maior para promover uma cultura de segurança psicológica. Os funcionários devem se sentir confiantes de que podem mostrar todas as dimensões de si mesmos sem medo de consequências, impacto negativo na carreira ou vergonha. Os benefícios podem ser vastos quando a saúde mental está significativamente conectada à saúde e ao bem-estar geral. Organizações com forte segurança psicológica apresentam melhor desempenho, engajamento, retenção e bem-estar geral dos empregados.
Líderes e gestores desempenham um papel crítico na criação dessa cultura que reconhece a saúde mental como um componente-chave do bem-estar geral. Eles devem primeiro ter ferramentas e recursos para gerenciar sua própria saúde mental para estar em uma boa posição de ajudar os outros. Informações e kits de ferramentas devem ser facilmente acessíveis aos empregados. E os parceiros fornecedores de saúde devem entender e se alinhar com esse compromisso da organização.
Se você perguntar, os funcionários lhe dirão tudo o que precisa saber sobre sua organização. As empresas podem avaliar a presença e o impacto do estigma por meio de pesquisas, revisões de avaliação externa e grupos focais confidenciais. Esses insights podem ajudar a informar uma abordagem estratégica e acionável em sua organização.
Líderes e gestores devem ser treinados para reconhecer sinais de sofrimento emocional e como apoiar colegas ou seus funcionários que estão com dificuldades. Expandir os currículos de treinamento para incluir informações gerais sobre saúde mental, treinamento em empatia, comunicação e resposta a crises. O reconhecimento da saúde mental deve ser uma competência essencial e atualizada rotineiramente entre os líderes de sua organização.
Fornecer treinamento em toda a organização para educar os empregados sobre fatos de saúde mental, incluindo preconceitos inconscientes relacionados a essas condições. O treinamento oferece uma oportunidade para quebrar mitos e permitir o diálogo, uma maneira poderosa de abordar preconceitos e quebrar esse estigma.
Os líderes podem ser modelos altamente influentes para comportamentos saudáveis e saúde mental positiva. Eles podem ser apoiados por meio de recursos como kits de ferramentas e guias de instruções sobre conversas difíceis. Também devem incorporar objetivos de bem-estar de forma mais ampla, definindo metas transparentes que levem à inclusão da saúde mental. A liderança autêntica cria confiança e melhora o desempenho dos empregados.
Revise as políticas e práticas formais que impactam diretamente a saúde mental. Avalie acordos de trabalho flexíveis, folgas, políticas de licença e outras que apoiem as famílias e a segurança no local de trabalho. A implementação de programas internos que tratam da escalada ou crise de saúde mental é ainda mais crítica, pois essas condições estão aumentando. Envolva-se com recursos locais, faça parcerias com organizações sem fins lucrativos e participe de eventos que abordam doenças mentais ou recuperação de transtorno por uso de substâncias, por exemplo.
As palavras importam. Pesquisas mostram que o uso da linguagem afirmativa, "primeiro a pessoa", pode ajudar a reduzir o estigma associado a ter, tratar ou estar em recuperação de uma condição de saúde mental. A comunicação com os colaboradores de forma inclusiva dá o exemplo, criando uma abordagem não estigmatizante e influenciando um local de trabalho seguro.
Mostrar compaixão no local de trabalho pode reduzir o estresse relacionado ao trabalho, diminuir a rotatividade e aumentar o comprometimento dos funcionários. Líderes que demonstram empatia e compaixão ajudam as empresas a alcançar mudanças positivas, confiança, lealdade e maior produtividade. Muitos funcionários deixam seus empregos porque seus chefes não têm empatia; líderes e atividades de coaching podem ajudar a aumentar a retenção de talentos.
Historicamente, o local de trabalho físico não considerou as necessidades de saúde mental dos empregados, como espaços tranquilos ou áreas livres de distrações. O trabalho híbrido diminui a densidade do local de trabalho, permitindo mais acesso a áreas privadas, silenciosas ou salas para descompressão. As empresas podem considerar políticas de câmera e vídeo durante reuniões virtuais e equilibrar espaços privados e sociais.
O estigma da saúde mental prejudica empregados e empresas e pode representar muitos riscos adversos. As organizações podem mostrar melhor que priorizam o bem-estar dos empregados incorporando as melhores práticas no local de trabalho e criando uma cultura livre de estigma. Esse esforço pode gerar uma vantagem competitiva duradoura, melhorar a retenção e a produtividade dos funcionários e, em última análise, normalizar as conversas sobre como obter os cuidados adequados para problemas de saúde mental.