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Artigos

Competindo contra as mudanças climáticas

Por Álvaro Trilho | Novembro 10, 2022

Artigo produzido pela WTW e publicado na edição on-line do jornal Folha de São Paulo, no dia 8 de novembro de 2022.
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Ainda faltam alguns meses para a Copa do Mundo, que, pela primeira vez, será realizada em um país do Oriente Médio e nos meses de novembro e dezembro. O principal motivo para isso são as altas temperaturas, que podem chegar a 50º C.

Esse cenário pode até parecer uma realidade distante de nós, restrita ao desértico Qatar, mas, infelizmente, não é. As mudanças climáticas já são uma realidade, impactando todo o mundo. E o esporte não será exceção.

Apesar de discreta, a interferência das mudanças climáticas no esporte já está presente. Em 2011, durante a Open de la Réunion, todos os jogos tiveram que ser cancelados, a partir das quartas de final, devido às chuvas torrenciais e inundações no local da competição.

E isso ficou ainda mais claro após realizarmos um levantamento utilizando avançadas ferramentas de monitoramento e previsibilidade climática da WTW.

Se os Acordos de Paris não forem cumpridos e não fizermos nada para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a partir de 2030 veremos os impactos das mudanças climáticas de formas mais marcantes e contundentes, repercutindo praticamente em todos os esportes a céu aberto, como surfe, futebol, tênis e atletismo, apenas para citar alguns.

No tênis, por exemplo, as tradicionais partidas de Wimbledon podem ser impactadas por extremos climáticos, com ondas de calor e tempestades. Nos dias das partidas, disputadas no verão londrino, a temperatura deve aumentar em, pelo menos, 5º C nos próximos anos, sendo que uma temperatura de 41º C pode alcançar a sensação térmica de 49º, além do tempo seco, até 2050, por exemplo.

Algo extremamente factível se formos avaliar as recentes ondas de calor que atingiram a Europa neste ano. Soma-se a isso o aumento pluviométrico concentrado em pequenos períodos, resultando em alagamentos de regiões urbanas e, claro, nas quadras.

No Brasil, isso não será diferente. Utilizando o futebol, esporte mais popular do país, como exemplo, veremos, a partir de 2030, essa modalidade sendo impactada fortemente pelas mudanças climáticas. Os estádios do Maracanã, no Rio de Janeiro, e do Castelão, em Fortaleza são alguns que devem sentir os reflexos desses extremos climáticos, sendo assolados por ondas de calor, iguais ou piores do que as de Londres, tornando as partidas inviáveis.

O estádio do Morumbi, no outro extremo, vai ser impactado ainda mais com alagamentos em consequência dos aumentos pluviométricos e das condições da região onde está localizado, impedindo a chegada de torcedores e, talvez, até a realização das partidas. Esses exemplos se repetem em diversos estádios brasileiros.

Tudo isso vai gerar um efeito em cascata que atingirá toda a cadeia esportiva, independentemente do esporte, como torcedores, patrocinadores, investimentos etc.

Com a possibilidade de cancelamento de partidas e atrasos nos campeonatos desportivos, os patrocinadores vão se sentir confortáveis para investir grandes montantes, como é feito hoje em dia?

Haverá mudanças no processo de treinamento e preparação de atletas, para que eles consigam suportar melhor os efeitos adversos do clima, como o tempo seco ou as altas de calor?

De qualquer forma, o esporte precisa se preparar para as mudanças climáticas que podem vir se nada for feito, buscando formas de mitigar esses impactos. Todas as cadeias esportivas vão precisar fazer uma efetiva gestão de risco, vendo onde serão impactadas, de que forma e como mitigar esses riscos, pois alguns vão demandar tempo e investimento, não podendo ficar para “em cima da hora”.

Na parte estrutural, por exemplo, estádios vão precisar adotar esguichos de água para reduzir o calor da torcida, e adaptações estruturais para reduzir as temperaturas internamente; haverá a necessidade de construir quebra-ventos e barreiras contra tempestades de areia, dependendo da localização; sistemas eficientes de drenagem precisarão ser implementados; dentre outras ações.

Além disso, o próprio negócio precisará ser repensado. Os clubes-empresas, que já precisam emitir balanços financeiros, vão passar a contemplar as questões ambientais e as práticas ESG em suas demonstrações contábeis? Anunciantes vão passar a investir apenas em times e competições com uma efetiva gestão de risco, que garantam a continuidade do esporte?

Agora, mais do que nunca, estamos em uma corrida contra o tempo, por isso é preciso que governos, empresas e sociedades como um todo se unam em prol da conservação ambiental e combate às mudanças climáticas.

Caso contrário, infelizmente, vamos perder essa competição.

Autor


Diretor de Gestão de Riscos, WTW

Responsável pela área de Risks and Analytics da WTW e com mais de 30 anos de experiência no mercado de seguros, tem conhecimento em gestão de riscos e seguros para o Brasil e outros países da América Latina.


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