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Artigos

Negócios arriscados: como as seguradoras brasileiras lidam com as mudanças

Fevereiro 7, 2024

Eduardo Takahashi, Country Leader da WTW no Brasil, conversou com a BNamericas sobre a mudança de percepções, o papel do governo e as soluções de seguros.
Climate|Cyber Risk Management|Environmental Risks|ESG and Sustainability|Financial, Executive and Professional Risks (FINEX)
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A percepção de risco no ambiente de negócios do Brasil mudou o foco na corrupção para a proteção de dados e aspectos de ESG.

Em conformidade com esses critérios, as soluções de seguros locais precisam se adaptar às mudanças.

Eduardo Takahashi, CEO da operação Brasil da WTW, uma empresa global de consultoria e soluções de corretagem, conversou com a BNamericas sobre a mudança de percepções, o papel do governo e as soluções de seguros.

BNamericas: Do ponto de vista de riscos, quais são os grandes temas no Brasil atualmente?

Takahashi: Dentro do cenário econômico e político, passamos por alguns prismas em 2023, que está associado a uma transição política importante que aconteceu, com um novo governo assumindo em 2023, trazendo consigo uma agenda climática forte.

Da perspectiva de seguros, vimos um fluxo relacionado ao tema energia e transição energética. De fato, todas as questões que chamamos de natural resources virou um grande tema.

Diante disso, e considerando também um cenário que o mundo experimentou de inflação e dinheiro migrando de um lado para outro, percebemos um grande fluxo de investimento na área industrial, direcionado à automação do parque industrial brasileiro, dando mais eficiência às indústrias. Vejo, ainda, espaço para mais expansão de investimentos em melhorias de eficiência.

Associado a isso, estamos falando de uma maior digitalização das empresas e isso traz também riscos importantes tecnológicos, riscos cibernéticos.

Outro aspecto associado a grandes temas é que a elevada taxa de juros afetou a atividade dos fundos de private equity. Com juros elevados, existe uma maior rentabilidade com operações financeiras do que com o operacional das empresas.

Também vale mencionar que os setores ligados à agricultura estão mais expostos aos riscos climáticos, que abrange desde problemas com alagamentos até secas. Esses eventos exigem que as empresas se protejam de uma melhor forma.

Por fim, existe a questão dos conflitos internacionais, que trazem para as empresas uma necessidade de melhor avaliação de toda sua cadeia de valor e fornecimento.

BNamericas: Essa semana, o governo federal anunciou um plano de financiamento para as indústrias locais, tendo como um dos pilares a inovação. Qual a sua avaliação deste plano?

Takahashi: Vejo inúmeras oportunidades surgindo deste plano.

A atividade industrial no Brasil não tinha muito acesso a financiamento e, com esse plano, o governo cria uma linha de crédito importante para a indústria dar sequência aos seus projetos, principalmente nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.

Isso oferece oportunidades para as empresas trabalharem mais em inovações. E para o mercado e os seguros, gera oportunidades de negócios para trabalharmos, também, com garantias para os projetos, principalmente, soluções ligadas à avaliação de desempenho dos projetos.

Outro ponto a destacar é que estamos vendo indústrias com elevado grau de automação e, ao mesmo tempo, vemos ataques cibernéticos que conseguem paralisar toda uma atividade industrial. Por isso, o seguro contra riscos cibernéticos está ganhando tração, auxiliando as empresas na avaliação de riscos e contramedidas para responder às ameaças.

Ainda sobre o plano industrial do governo, vejo investimentos ligados ao tema ESG, associados ao meio ambiente, energia limpa também ganhando tração, com empresas investindo em pesquisa, por exemplo, para desenvolvimento do hidrogênio verde.

BNamericas: Temos visto no Brasil o aumento de eventos climáticos mais extremos, como chuvas e ventos mais fortes. O quanto o país está preparado para enfrentar esses eventos em termos de seguros?

Takahashi: Quando você olha para a América Latina, temos países que historicamente têm mais eventos associados a terremotos, no caso do Chile e do México, por exemplo, e furacões, mais na região do Caribe, e os governos e empresas desses países sempre buscaram soluções no mercado de seguros.

No Brasil, quando alguns eventos, como os mencionados, ultrapassam os padrões da curva histórica, não existe uma solução pronta em termos de seguros, então, de alguma forma, as empresas no Brasil estão em uma fase de avaliação de seus riscos climáticos.

Na minha visão, muitas empresas, também por preocupações com aspectos ESG, terão que se apressar na busca por essas soluções de seguros, principalmente, as empresas com ações listadas.

Atualmente, existe uma necessidade crescente para que as empresas tenham seus relatórios associados ao clima, explicando o que estão fazendo em relação ao clima, quais são os seus planos de ação e quais as lacunas encontradas. Há setores, como empresas de celulose, energia e petróleo que já estão buscando assessoria para isso, para contratação de seguros relacionados.

BNamericas: Quais são os gatilhos para no Brasil se adotar mais seguros e planos de contingência para eventos climáticos?

Takahashi: Vejo alguma iniciativa nessa direção por parte do governo, mas quando incluímos nessa explicação o amplo tema de ESG, aqueles que impulsionam esta tendência são certamente os financiadores de projetos, incluindo instituições multilaterais, que têm elevadas exigências para as avaliações de riscos antes de financiar um projeto. A sustentabilidade é um requisito importante do modelo de project finance.

Em geral, a tendência do mercado em termos de seguros é impulsionada mais pelo setor privado do que pelo governo.

BNamericas: Durante alguns anos da década passada, o tema corrupção era a grande preocupação em termos de risco no Brasil por parte dos investidores, especialmente durante a operação Lava Jato. Hoje, quais são as principais fontes de risco na percepção dos investidores?

Takahashi: A Lava Jato nos trouxe uma percepção de risco de imagem muito importante. Até 2008, praticamente não tínhamos o seguro D&O [seguro de responsabilidade civil para diretores e executivos]. Em 2008, tivemos a crise dos derivativos afetando algumas empresas, e esse mercado [de seguros D&O] começou a ganhar escala. Durante a operação Lava Jato (iniciada em 2014), esse segmento teve um boom.

Hoje, eu diria que, em relação à corrupção, temos uma agenda corporativa mais controlada e as preocupações atuais estão mais associadas à LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais], aos riscos cibernéticos, riscos ambientais e riscos de crédito.

Você também pode acessar a entrevista nesse link do portal da BNamericas.

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