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O agronegócio precisa se preparar para os impactos da mudança climática

Por James Hodge | Fevereiro 6, 2024

As mudanças climáticas continuam afetando o mundo inteiro, e não é diferente com o agronegócio. O seguro ganha cada vez mais relevância para proteger os produtores.
Climate|Environmental Risks|ESG and Sustainability
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A mudança climática está afetando o mundo e a forma como vivemos. Basta acompanharmos as notícias, que podemos ver esses impactos de forma clara e nítida.

Um exemplo disso foram as chuvas que atingiram o Sul do Brasil em setembro do ano passado, resultado de um ciclone extratropical muito mais forte do que os usuais. É verdade que esse tipo de ocorrência não é incomum, mas, segundo especialistas, o aumento das temperaturas e o efeito do El Niño aumentaram o poder do ciclone, que causou mortes e destruição.

Quando olhamos especificamente o agronegócio gaúcho, conseguimos ter uma dimensão do impacto financeiro do clima instável. De acordo com o relatório divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CMN), as cheias que atingiram 106 municípios do Rio Grande do Sul resultaram em prejuízos no agro que ultrapassam R$ 1 bilhão, incluindo perdas na agricultura e na pecuária. Quase 30 mil animais morreram e safras inteiras de milho e trigo foram perdidas.

R$ 1 bilhão de prejuízos no agro

30 mil animais mortos

Agravando esse quadro, muitos produtores rurais da região não tinham nenhuma forma de cobertura ou seguro, impossibilitando uma recuperação financeira de curto e médio prazos.

Em outras palavras, além dessa realidade, o ciclone extratropical também trouxe um fato importante: o agronegócio não está preparado para os impactos da mudança climática, e precisa de inovação em seguros.

Para se ter uma ideia disso, há cinco anos apenas 10% da área produtiva do Brasil possuía seguros rurais e/ou agrícolas. Atualmente, esse número não mudou muito, girando em torno de 15% da área produtiva do país.

Com instabilidades cada vez mais aparentes, estamos vendo, também, uma nova realidade envolvendo os seguros, que estão ficando mais caros e restritivos. Isso acontece principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste que são mais suscetíveis a este fenômeno.

Os danos diretos não são a única forma com a qual o clima está afetando os produtores rurais. O Centro-Oeste, por exemplo, não está sendo atingido diretamente pelos efeitos do El Niño, mas está sentindo os reflexos de outras regiões.

A região Norte do Brasil está sofrendo a maior seca dos últimos 43 anos, que está prejudicando a navegação pelos rios, principalmente o Madeira, por onde escoa grandes quantidades de grãos do Centro-Oeste brasileiro.

Na ausência dessa navegabilidade, os grãos terão que seguir rotas pelo Sudeste, via porto de Santos, o que vai encarecer as commodities.

Essa nova realidade exige que repensemos os seguros no agronegócio, que precisam possuir um foco regional, que entenda e atenda às necessidades locais.

Mas só repensar as apólices não é suficiente. É necessário que haja condições para que os produtores rurais, principalmente os de pequeno porte, possam contratar esses seguros e estejam cobertos.

Para tanto, é necessário que haja incentivos e acesso a crédito, que precisam levar em conta essa nova realidade. Enquanto isso não for feito, provavelmente veremos esse cenário se repetir no futuro.

Autor


Head of Agribusiness & Construction

Historiador (USP) tem dezoito anos de experiência no mercado de seguros. Na WTW é o Head de Agro & Construction Brasil desde 2010. Tem experiência na implementação de programas de seguro e resseguro para clientes no Brasil, América Latina, América Central, Caribe e África.


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