O cenário de fusões e aquisições ou Mergers & Acquisitions, na sigla em inglês M&A, teve um primeiro semestre cauteloso. Segundo um levantamento da consultoria TTR Data, de janeiro a junho deste ano, houve uma redução de 26% no número de transações globais, se comparado com o mesmo período de 2023. Ainda de acordo com a consultoria, no semestre foi movimentado cerca de R$ 105 bilhões.
Manter-se cauteloso é compreensível, pois estamos vivenciando um ano extremamente turbulento, com movimentações geopolíticas intensas, guerras no Oriente Médio e Leste Europeu; eleições na América Latina e nos Estados Unidos; desaceleração econômica em diversos países, com destaque para as economias chinesa e norte-americana; e as mudanças climáticas, que estão cada vez mais evidentes.
É verdade que não podemos restringir a queda nos M&A a apenas esses fatores, mas não há dúvidas que eles pesam – e muito – na hora de fechar negócios. Contudo, apesar de estarmos vendo essa redução no número de fusões e aquisições, acompanhamos também uma maior procura pela contratação de seguros e coberturas especiais, que auxiliam nos processos e trazem mais confiança e segurança aos envolvidos.
Nesse sentido, o seguro para Declarações e Garantias (ou W&I, sigla em inglês para Warranty and Indennity) se destaca como um instrumento protecionista para perdas financeiras devido ao passivo oculto da empresa objeto da aquisição.
O W&I protege o segurado pelas perdas econômicas derivadas de um não cumprimento das manifestações e garantias e das declarações outorgadas em uma operação de M&A, assim como as perdas ou responsabilidades decorrentes de fatos desconhecidos ou não divulgados pelo vendedor. Adicionalmente, o seguro W&I pode ser adquirido tanto pelo comprador como pelo vendedor, trazendo mais confiança para ambas as partes.
Para se ter uma ideia do volume desses e outros seguros para M&As, dados do último relatório WTW FINEX GLOBAL, publicado em 2023, mostrou que em 2022 foram geradas mais de 3.000 apólices de M&A no mundo, sendo que o Reino Unido liderou, com mais de 630 apólices. Foram mais de US$ 3,5 bilhões em apólices, com prêmios que ultrapassaram o montante de US$ 100 milhões.
$ 3,5B em apólices de M&A
$100M em prêmios
Em um rápido cruzamento de dados com o TTR Data, foram realizadas mundialmente cerca de 2.400 transações de fusões e aquisições em 2022. Ou seja, temos mais apólices e coberturas do que o fluxo de M&A em sua totalidade.
Estes dados nos possibilitam fazer uma breve análise das tendências, que estão gradativamente se comprovando. A primeira é que as apólices e as coberturas não estão mais contemplando apenas o grupo A ou B, mas expandindo para atender outras áreas e setores e cobrindo, assim, mais elos na cadeia do negócio.
Outro ponto importante é que a grande quantidade de apólices mostra que existe uma busca, cada vez maior, por segurança na hora das transações. É verdade que o número de fusões e aquisições caiu no semestre, mas a preocupação pela segurança financeira do negócio aumentou consideravelmente.
É clara a vontade e a dedicação para que os negócios deem certo. Praticamente, não existe mais abertura para tentativas e erros. Desde o começo, nas primeiras tratativas, já há a certeza dos objetivos das fusões e aquisições. E os envolvidos estão investindo com segurança e se protegendo de possíveis falhas e acidentes, que seriam muito negativos para além das questões financeiras e de reputação.
Basta olharmos algumas tendências atuais, que já identificamos no cenário de fusões e aquisições, tendo como foco o mercado local.
No primeiro semestre de 2024, foram realizadas 748 transações no mundo. Desse total, 18 foram expressivas e envolveram empresas do Brasil e da América Latina, oito delas relacionadas à energia (renováveis, elétrica e óleo e gás), três operacionais (logística e varejo, principalmente) e duas no setor imobiliário, entre outras. Foram movimentados mais de R$ 60 bilhões no período.
Em um levantamento com o setor de M&A da WTW, já identificamos que a maior parte das coberturas de W&I na América Latina contemplaram justamente os setores de energia (com 40% das coberturas), imobiliário (27%) e operacionais (33%).
27% setor imobiliário
33% operacionais
Nesse quadro, no Brasil, não há dúvidas que o setor de energia é um dos que mais tem potencial de crescimento, tanto nas fusões e aquisições quanto nos seguros específicos.
Os seguros deixaram de ser vistos apenas como uma proteção contra eventos adversos e passaram a ser reconhecidos como uma ferramenta estratégica essencial para a identificação e gestão de riscos. Hoje, eles são um pilar de segurança e confiança em grandes transações, desempenhando um papel crucial na estabilidade e sucesso dos negócios.
E a tendência é que isso aumente ainda mais no futuro.
