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Artigos

A necessidade de inovar o seguro rural para proteger o produtor e o potencial agrícola brasileiro

Por James Hodge | Dezembro 10, 2024

O Brasil tem um enorme potencial agrícola e a produção de alimentos pode aumentar ainda mais com a adoção de novas tecnologias e modelos de seguros rurais que atendam às necessidades do produtor rural.
Climate|ESG and Sustainability
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O Brasil é um país de proporções continentais, com um imenso potencial agrícola. É comum ouvir que somos o "celeiro do mundo", pois temos as condições ideais para produzir alimentos tanto para nós quanto para o restante do planeta. Essa afirmação se reflete na nossa capacidade produtiva. De acordo com um levantamento do banco BTG Pactual, publicado em março deste ano, o Brasil produz alimentos suficientes para atender as necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, o que corresponde a pouco mais de 10% da população mundial.

Esse número poderia ser ainda maior com a adoção de novas tecnologias e inovações, como drones pulverizadores e monitoramentos via satélite, que podem aumentar ainda mais a produtividade agrícola. No entanto, há desafios significativos que impedem o pleno aproveitamento desse potencial. Um dos principais problemas é o desperdício. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 30% do que produzimos é perdido. Em termos práticos, isso significa que o que é desperdiçado seria suficiente para alimentar cerca de 270 milhões de pessoas, reduzindo nossa capacidade real de alimentar o mundo para aproximadamente 600 milhões de pessoas.

30% do que produzimos é desperdiçado

Embora ainda seja um número impressionante, é preciso considerar as dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais para manter essa produção. Entre os principais desafios estão os problemas financeiros e as mudanças climáticas, que estão intrinsecamente ligados. A cada ano, as mudanças climáticas afetam diretamente a produção agrícola. Em 2024, por exemplo, a produção de laranja sofreu com o calor e a estiagem, resultando em uma queda de 24% na safra, a maior em 36 anos. Isso, por sua vez, elevou o preço da commodity em 26%.

A produção de café também foi fortemente impactada pelas condições climáticas adversas. As fortes geadas que atingiram o Brasil em julho deste ano afetaram cerca de 9,5 mil produtores rurais, comprometendo severamente suas safras. Essas perdas afetam diretamente a saúde financeira dos produtores, reduzindo suas margens de lucro e dificultando os investimentos necessários para as safras futuras. Esse ciclo de prejuízos acaba gerando um efeito cascata, que prejudica toda a cadeia produtiva, do produtor ao consumidor final.

A situação é agravada pela falta de proteção financeira adequada para os produtores. Os seguros rurais, que poderiam mitigar os riscos climáticos e financeiros, têm uma adesão muito baixa no Brasil. Atualmente, apenas 7% das áreas agrícolas possuem algum tipo de cobertura. Um dos principais entraves é a falta de subvenção, o que torna a contratação de seguros mais difícil. Além disso, os modelos de seguros rurais disponíveis no mercado muitas vezes não atendem às necessidades específicas dos produtores brasileiros, pois foram adotados a partir de modelos internacionais que não refletem a realidade local.


7% de áreas agrícolas possuem algum tipo de cobertura

Como resultado, muitas safras ficam desprotegidas, e qualquer variação climática pode resultar em perdas irreparáveis para os produtores, que muitas vezes não têm condições de se reerguer para as próximas safras. Isso é particularmente preocupante em culturas como o açaí, a mandioca e o cacau, nas quais o Brasil se destaca como um dos maiores produtores mundiais, mas que ainda carecem de modalidades de seguro adequadas. A situação é semelhante para outras culturas, como melão e palmito, que também não possuem cobertura de seguros rurais.

A falta de seguros rurais que atendam às realidades do Brasil também contraria as práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance). Por exemplo, a produção agroflorestal, que integra pasto, floresta e cultivos com foco na sustentabilidade, não conta com modalidades de seguro específicas. Um produtor que adote esse modelo e enfrente um imprevisto, como um raio que provoque um incêndio em uma área seca, pode perder grande parte de sua produção sem ter como compensar esse prejuízo.

É urgente a necessidade de repensar e desenvolver modelos de seguros rurais que atendam às nossas necessidades agrícolas, com foco no bem-estar financeiro do produtor rural. Com a proteção adequada vamos ter as ferramentas para continuar nossa trajetória e desenvolvimento de “celeiro do mundo”.

Autor


Head of Agribusiness & Construction

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